Algumas semanas depois de decidirem morar mais perto, Hyoga estava se mudando com a filha para um apartamento no segundo andar de um prédio próximo à casa de Shiryu. Dias antes, Shun tinha se mudado para o apartamento vizinho.
– Pronto. Última caixa. – suspirou o russo ao colocar no chão a caixa onde estava escrito "brinquedos da Nat".
– Achei que nunca íamos terminar – disse Shun. – A minha mudança foi bem mais rápida.
– Pois é. Onde você arrumou tanta coisa? – perguntou Shiryu, que tinha uma caminhonete e ajudava os dois na mudança. Já estava quase totalmente recuperado dos ferimentos sofridos em Nikko, mas ainda precisava de um cajado para ajudá-lo a andar.
– Nem eu sabia que tinha tudo isso – suspirou Hyoga. – E com a chegada da Nat as coisas triplicaram.
– Sei, a culpa é dela, né? – riu Shun. – Tinha umas quatro caixas de tranqueiras suas.
– Depois conversamos... Obrigada mais uma vez por ter vindo ajudar, Shiryu.
– Só dirigi a caminhonete e carreguei as caixas leves – Shiryu respondeu e foi para a varanda. – Dá para ver minha casa lá no fim da rua.
Shun também foi à varanda. A casa de esquina se destacava das outras pelas árvores do jardim.
– A cerejeira está linda – disse o médico.
– Não é? – Shiryu sorriu orgulhoso. – Logo começará a florir. Shunrei está ansiosa por isso. Shoryu virá e ela está bem empolgada para fazer uma festa no jardim. Aliás, acho que está na hora de pegar ela e Natássia no supermercado para irmos almoçar todos juntos. Vou lá em casa deixar a caminhonete e pegar o outro carro, aí volto com as duas.
Os dois assentiram e assim que Shiryu saiu, Hyoga aproximou-se de Shun e o abraçou.
– Agora somos vizinhos, meu amor – disse o russo, tocando o rosto de Shun.
– Sim! Vou ver você e a Nat todos os dias! Quase não acredito! Estou tão feliz!
– Também estou muito feliz. Eu te amo tanto. Amo a nossa família.
– Eu também te amo, Oga.
Hyoga puxou-o um pouco para dentro, para onde não seriam vistos por quem passasse na rua, e o beijou.
– Será que o Shiryu vai demorar? – perguntou, conduzindo Shun até o sofá.
– Quê? Você já quer?
– Eu te quero o tempo todo...
– Parece um adolescente com os hormônios em fúria – Shun riu, mas a declaração o tinha deixado excitado. Sentia o mesmo por ele, embora fosse um pouco mais comedido ao expressar.
– Temos anos de atraso...
– É, acho que Shiryu vai demorar um pouquinho... – Shun disse, recostando-se no sofá e puxando o namorado para mais um beijo.
Os dois ficaram tão envolvidos no momento que não viram nem ouviram quando a porta se abriu.
– Desculpem, eu não… – disse Shiryu. – Não quis atrapalhar… esqueci minha chave...
– Shiryu… nós… – Hyoga começou, tão vermelho de vergonha quanto os outros dois, mas não soube como continuar, então limitou-se a ficar de cabeça baixa
Shun também estava envergonhado mas não arrependido. Shiryu tinha visto o que não era pra ver, mas talvez fosse até melhor assim. Ele acabaria sabendo de qualquer jeito, então que fosse logo.
Embora também estivesse constrangido, foi Shiryu quem quebrou o gelo:
– Não precisam explicar nada, ok? Esteve sempre tão na cara!
– Esteve? – surpreendeu-se Shun, encarando Shiryu. Hyoga também dirigiu ao amigo um olhar de choque.
– Até um cegueta como eu já tinha percebido! – Shiryu prosseguiu. – Bom, na verdade, a Shunrei viu primeiro. Ela sempre achou que tinha alguma coisa rolando entre vocês dois. Quando ela me falou, comecei a prestar atenção e ficou bem óbvio... Mas vocês nunca falaram nada, eu também não perguntei, porque não é da minha conta. Então vocês resolveram vir morar aqui e eu não entendi por que em apartamentos vizinhos em vez de morarem logo juntos, mas, de novo, não é da minha conta.
– Faz pouco tempo que nós… começamos… – disse Shun.
– Foi só depois que a Natássia chegou – completou Hyoga.
– Então vocês são bem mais tontos do que eu pensava!
– É que é difícil… – disse Hyoga. – Vai ser difícil. É um tabu muito grande. Somos dois homens...
– Tabu? Isso é tão relativo. Antigamente seria um tabu um japonês como eu ser casado com uma chinesa como a Shunrei. Até hoje tem gente que pode "não ver com bons olhos". Mas eles não pagam nossas contas, então eu não tô nem aí. Não vivam pautados na opinião dos outros.
– Ainda tem o problema de sermos… irmãos – acrescentou Shun.
– Para efeitos legais, não somos irmãos – lembrou Shiryu. – Nunca fomos registrados como filhos do Kido. Então, se vocês não se importam, não devia ser um problema.
Shun e Hyoga entreolharam-se e sorriram. Depois envolveram Shiryu em um abraço caloroso.
– É por isso que você é o mais sábio – Shun disse.
– Eu sei que sou – Shiryu respondeu e pegou a chave que estava sobre a mesa de centro. – Vou lá buscar Shunrei e Natássia... E acho que vou levá-las para almoçar sem vocês. Vamos demorar. Continuem aí o que estavam fazendo...
– Ele quis mesmo dizer isso que eu entendi? – Shun perguntou a Hyoga depois que Shiryu saiu.
– É, ele quis – Hyoga assentiu, tocando a face de Shun e começando a beijá-lo novamente.
-S2-
No supermercado, Shiryu cumprimentou Shunrei com um beijo na boca. Não costumavam fazer isso em público, ela não entendeu o que mudou mas gostou.
– Cadê o papai? – Natássia perguntou. – E o tio Shun?
– Eles ficaram arrumando umas coisas lá no apartamento – Shiryu respondeu. – Vamos almoçar só nós três.
Shunrei estranhou, já que o combinado era que eles viessem também, mas o olhar de Shiryu dizia que depois explicava. Seguiram para um pequeno restaurante, diferente daquele que costumavam frequentar e longe demais do mercado onde estavam. Almoçaram, passearam um pouco por um parque próximo e só no fim da tarde voltaram ao apartamento, levando duas marmitas para o casal.
– Tiooo! Tem almoço pra você e pro papai! – Natássia anunciou alegremente e correu para abraçar Shun.
– Ah, meu amor, minha princesa! Eu estava mesmo morrendo de fome.
– Cadê o papai?
– Está tomando banho...
– Você também tava! Tá com o cabelo molhado!
– É, eu estava – respondeu Shun.
– Bom, ela está entregue – disse Shiryu, rindo. – Vamos, Shunrei?
– Vamos – ela respondeu e também sorriu. Agora entendia o comportamento do marido, a escolha de um restaurante muito longe, a demora no parque...
– Obrigado por tudo – Shun disse. – De verdade.
– De nada. – Shiryu sorriu e envolveu a esposa com um braço.– Qualquer coisa, estamos bem ali no fim da rua.
-S2-
Alguns dias depois,
– Oi, meu docinho! – Shun disse para Natássia ao chegar de vinte e quatro horas de plantão.
Sempre que chegava ia direto para o apartamento de Hyoga. Era maravilhoso chegar de um dia difícil e ter um abraço da filha, um beijo do homem que amava, fazer uma refeição com eles. Mesmo quando estava cansado, sentia-se revigorado ao receber o amor deles. Estava adorando essa nova vida e, apesar das perturbações no mundo dos cavaleiros, nunca tinha sido tão feliz.
– Oi, mãe! – ela gritou, empolgada, correndo para abraçá-lo.
– Mãe? – surpreendeu-se o médico. – Por que me chamou de mãe, querida?
– É que eu vi você e o papai beijando... e eu já vi o tio Shiryu beijando a tia Shunrei e ela é mãe do Shoryu. Eu vi foto dele, ela me mostrou. Então se meu pai é meu pai e você beija meu pai, você é minha mãe.
Shun riu da lógica dela. Ele e Hyoga vinham conversando como iam explicar para ela sobre o tipo de relação que tinham, mas Natássia descobriu por si mesma e ele decidiu não complicar as coisas.
– Você está certa, eu e ele temos o mesmo tipo de relação que o tio Shiryu e a tia Shunrei, apesar de nós sermos dois rapazes.
– Natássia é muito inteligente!
– É, sim. Você pode me chamar do que quiser. Mamãe, papai, titio... o que quiser. O importante é que amo você, amo seu pai e estarei sempre com vocês.
– Eu também te amo, mamãe Shun! Mas agora eu quero almoçar!
– Tá, vou fazer um almocinho bem gostoso!
– Vou acordar o papai!
– Não, Nat. Espera o almoço ficar pronto! – ele pediu, mas ela já tinha saído correndo em direção ao quarto de Hyoga.
Continua...
-S2-
Oie!
Então Shiryu já sabia... Parece que o ceguinho não é tão cego... Tudo bem que teve uma ajudinha da Shu...
A Nat chamou o Shun de "mamãe" num capítulo especial do mangá e eu queria muito uma cena explicando como ela chegou a essa conclusão, então fiz. Gosto da ideia de ela associar com a tia Shunrei!
É isso!
Até o próximo!
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