23 de janeiro de 2021

Quase Sem Querer - Capítulo VI

 


Algumas semanas depois de decidirem morar mais perto, Hyoga estava se mudando com a filha para um apartamento no segundo andar de um prédio próximo à casa de Shiryu. Dias antes, Shun tinha se mudado para o apartamento vizinho.

Pronto. Última caixa. – suspirou o russo ao colocar no chão a caixa onde estava escrito "brinquedos da Nat".

Achei que nunca íamos terminar – disse Shun. – A minha mudança foi bem mais rápida.

Pois é. Onde você arrumou tanta coisa? – perguntou Shiryu, que tinha uma caminhonete e ajudava os dois na mudança. Já estava quase totalmente recuperado dos ferimentos sofridos em Nikko, mas ainda precisava de um cajado para ajudá-lo a andar.

Nem eu sabia que tinha tudo isso – suspirou Hyoga. – E com a chegada da Nat as coisas triplicaram.

Sei, a culpa é dela, né? – riu Shun. – Tinha umas quatro caixas de tranqueiras suas.

Depois conversamos... Obrigada mais uma vez por ter vindo ajudar, Shiryu.

Só dirigi a caminhonete e carreguei as caixas leves – Shiryu respondeu e foi para a varanda. – Dá para ver minha casa lá no fim da rua.

Shun também foi à varanda. A casa de esquina se destacava das outras pelas árvores do jardim.

A cerejeira está linda – disse o médico.

Não é? – Shiryu sorriu orgulhoso. – Logo começará a florir. Shunrei está ansiosa por isso. Shoryu virá e ela está bem empolgada para fazer uma festa no jardim. Aliás, acho que está na hora de pegar ela e Natássia no supermercado para irmos almoçar todos juntos. Vou lá em casa deixar a caminhonete e pegar o outro carro, aí volto com as duas.

Os dois assentiram e assim que Shiryu saiu, Hyoga aproximou-se de Shun e o abraçou.

Agora somos vizinhos, meu amor – disse o russo, tocando o rosto de Shun.

Sim! Vou ver você e a Nat todos os dias! Quase não acredito! Estou tão feliz!

Também estou muito feliz. Eu te amo tanto. Amo a nossa família.

Eu também te amo, Oga.

Hyoga puxou-o um pouco para dentro, para onde não seriam vistos por quem passasse na rua, e o beijou.

Será que o Shiryu vai demorar? – perguntou, conduzindo Shun até o sofá.

Quê? Você já quer?

Eu te quero o tempo todo...

Parece um adolescente com os hormônios em fúria – Shun riu, mas a declaração o tinha deixado excitado. Sentia o mesmo por ele, embora fosse um pouco mais comedido ao expressar.

Temos anos de atraso...

É, acho que Shiryu vai demorar um pouquinho... – Shun disse, recostando-se no sofá e puxando o namorado para mais um beijo.

Os dois ficaram tão envolvidos no momento que não viram nem ouviram quando a porta se abriu.

Desculpem, eu não… – disse Shiryu. – Não quis atrapalhar… esqueci minha chave...

Shiryu… nós… – Hyoga começou, tão vermelho de vergonha quanto os outros dois, mas não soube como continuar, então limitou-se a ficar de cabeça baixa

Shun também estava envergonhado mas não arrependido. Shiryu tinha visto o que não era pra ver, mas talvez fosse até melhor assim. Ele acabaria sabendo de qualquer jeito, então que fosse logo.

Embora também estivesse constrangido, foi Shiryu quem quebrou o gelo:

Não precisam explicar nada, ok? Esteve sempre tão na cara!

Esteve? – surpreendeu-se Shun, encarando Shiryu. Hyoga também dirigiu ao amigo um olhar de choque.

Até um cegueta como eu já tinha percebido! – Shiryu prosseguiu. – Bom, na verdade, a Shunrei viu primeiro. Ela sempre achou que tinha alguma coisa rolando entre vocês dois. Quando ela me falou, comecei a prestar atenção e ficou bem óbvio... Mas vocês nunca falaram nada, eu também não perguntei, porque não é da minha conta. Então vocês resolveram vir morar aqui e eu não entendi por que em apartamentos vizinhos em vez de morarem logo juntos, mas, de novo, não é da minha conta.

Faz pouco tempo que nós… começamos… – disse Shun.

Foi só depois que a Natássia chegou – completou Hyoga.

Então vocês são bem mais tontos do que eu pensava!

É que é difícil… – disse Hyoga. – Vai ser difícil. É um tabu muito grande. Somos dois homens...

Tabu? Isso é tão relativo. Antigamente seria um tabu um japonês como eu ser casado com uma chinesa como a Shunrei. Até hoje tem gente que pode "não ver com bons olhos". Mas eles não pagam nossas contas, então eu não tô nem aí. Não vivam pautados na opinião dos outros.

Ainda tem o problema de sermos… irmãos – acrescentou Shun.

Para efeitos legais, não somos irmãos – lembrou Shiryu. – Nunca fomos registrados como filhos do Kido. Então, se vocês não se importam, não devia ser um problema.

Shun e Hyoga entreolharam-se e sorriram. Depois envolveram Shiryu em um abraço caloroso.

É por isso que você é o mais sábio – Shun disse.

Eu sei que sou – Shiryu respondeu e pegou a chave que estava sobre a mesa de centro. – Vou lá buscar Shunrei e Natássia... E acho que vou levá-las para almoçar sem vocês. Vamos demorar. Continuem aí o que estavam fazendo...

Ele quis mesmo dizer isso que eu entendi? – Shun perguntou a Hyoga depois que Shiryu saiu.

É, ele quis – Hyoga assentiu, tocando a face de Shun e começando a beijá-lo novamente.

-S2-

No supermercado, Shiryu cumprimentou Shunrei com um beijo na boca. Não costumavam fazer isso em público, ela não entendeu o que mudou mas gostou.

Cadê o papai? – Natássia perguntou. – E o tio Shun?

Eles ficaram arrumando umas coisas lá no apartamento – Shiryu respondeu. – Vamos almoçar só nós três.

Shunrei estranhou, já que o combinado era que eles viessem também, mas o olhar de Shiryu dizia que depois explicava. Seguiram para um pequeno restaurante, diferente daquele que costumavam frequentar e longe demais do mercado onde estavam. Almoçaram, passearam um pouco por um parque próximo e só no fim da tarde voltaram ao apartamento, levando duas marmitas para o casal.

Tiooo! Tem almoço pra você e pro papai! – Natássia anunciou alegremente e correu para abraçar Shun.

Ah, meu amor, minha princesa! Eu estava mesmo morrendo de fome.

Cadê o papai?

Está tomando banho...

Você também tava! Tá com o cabelo molhado!

É, eu estava – respondeu Shun.

Bom, ela está entregue – disse Shiryu, rindo. – Vamos, Shunrei?

Vamos – ela respondeu e também sorriu. Agora entendia o comportamento do marido, a escolha de um restaurante muito longe, a demora no parque...

Obrigado por tudo – Shun disse. – De verdade.

De nada. – Shiryu sorriu e envolveu a esposa com um braço.– Qualquer coisa, estamos bem ali no fim da rua.

-S2-

Alguns dias depois,

Oi, meu docinho! – Shun disse para Natássia ao chegar de vinte e quatro horas de plantão.

Sempre que chegava ia direto para o apartamento de Hyoga. Era maravilhoso chegar de um dia difícil e ter um abraço da filha, um beijo do homem que amava, fazer uma refeição com eles. Mesmo quando estava cansado, sentia-se revigorado ao receber o amor deles. Estava adorando essa nova vida e, apesar das perturbações no mundo dos cavaleiros, nunca tinha sido tão feliz.

Oi, mãe! – ela gritou, empolgada, correndo para abraçá-lo.

Mãe? – surpreendeu-se o médico. – Por que me chamou de mãe, querida?

É que eu vi você e o papai beijando... e eu já vi o tio Shiryu beijando a tia Shunrei e ela é mãe do Shoryu. Eu vi foto dele, ela me mostrou. Então se meu pai é meu pai e você beija meu pai, você é minha mãe.

Shun riu da lógica dela. Ele e Hyoga vinham conversando como iam explicar para ela sobre o tipo de relação que tinham, mas Natássia descobriu por si mesma e ele decidiu não complicar as coisas.

Você está certa, eu e ele temos o mesmo tipo de relação que o tio Shiryu e a tia Shunrei, apesar de nós sermos dois rapazes.

Natássia é muito inteligente!

É, sim. Você pode me chamar do que quiser. Mamãe, papai, titio... o que quiser. O importante é que amo você, amo seu pai e estarei sempre com vocês.

Eu também te amo, mamãe Shun! Mas agora eu quero almoçar!

Tá, vou fazer um almocinho bem gostoso!

Vou acordar o papai!

Não, Nat. Espera o almoço ficar pronto! – ele pediu, mas ela já tinha saído correndo em direção ao quarto de Hyoga.

Continua...

-S2-

Oie!

Então Shiryu já sabia... Parece que o ceguinho não é tão cego... Tudo bem que teve uma ajudinha da Shu...

A Nat chamou o Shun de "mamãe" num capítulo especial do mangá e eu queria muito uma cena explicando como ela chegou a essa conclusão, então fiz. Gosto da ideia de ela associar com a tia Shunrei!

É isso!

Até o próximo!

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