12 de dezembro de 2020

Quase Sem Querer - Capítulo V - Merecemos Mais

 

Que dia louco foi esse? – perguntou Yoshino, recostando-se na poltrona do trem.

Nem me fale... – suspirou Hyoga, aliviado porque, apesar de tudo, as coisas tinham terminado bem.

O plano era Shiryu levar Yoshino e Natássia à cidade de Nikko, onde se encontrariam com Shura e com o curandeiro do Santuário para que ele examinasse a pequena. Depois, pretendiam fazer um passeio pela cidade e voltar para casa tranquilamente. Mas com os cavaleiros não funcionava assim, ainda mais nos últimos tempos, e um simples passeio virou uma batalha duríssima para Shiryu. Não terminou em tragédia porque Seiya apareceu repentinamente para ajudá-lo.

O próprio Hyoga acabou indo a Nikko às pressas quando sentiu Natássia em perigo. Um Sem Rosto atacou a menina, mas Máscara da Morte a defendeu, lá do jeito dele, ofendendo-a, chamando-a de pirralha estúpida. Hyoga quis matá-lo por isso, porém, xingando ou não, ele protegeu Natássia e o pai teve de engolir isso.

Agora todos estavam voltando para Tóquio no trem-bala, com Máscara da Morte sentado no fundo do vagão, tentando ficar afastado do grupo. Estava jovem como Shura e foi inevitável Hyoga se perguntar se Camus voltaria também. Gostaria de revê-lo, de ter mais tempo com ele, de conversar calmamente enquanto tomavam uma bebida no bar, de apresentá-lo a sua pequena e doce Natássia, de falar sobre Shun… O que ele pensaria do relacionamento? Ele apoiaria? E estariam do mesmo lado, lutando pela mesma deusa ou em lados opostos?

Na poltrona ao lado dele, Shiryu começou a tossir de um jeito que o assustou, interrompendo seus pensamentos. Desde que entrou no trem, o companheiro de Libra estava quieto, de olhos fechados e com a respiração cada vez mais pesada, difícil e ruidosa. E agora essa tosse...

Foi estranho, papai… – Natássia comentou.

O que foi estranho, filha? – Hyoga perguntou, desviando a atenção do amigo para a filha.

Aquele bicho feio que atacou Natássia. Mas aí o seu Máscara defendeu.

Sim, muito estranho – ele disse, e pensou que antes ela era um daqueles "bichos feios". Foi atacada porque eles consideraram-na uma traidora. De repente, lembrou o propósito da viagem a Nikko e voltou-se para Yoshino. – O que o médico disse sobre Natássia? – perguntou.

Ah, sim! – a garota respondeu. – Ele falou coisas sobre como o corpo e a alma dela estão incrivelmente conectados por algo. Eu não entendi muito bem, acho que ele quis dizer que ela está viva, bem vivinha, o que me parece bem óbvio.

Entendi – disse Hyoga.

"Ela está bem", pensou o pai zeloso. "A alma bem conectada ao corpo, um cosmo forte, bem fundido à consciência e à existência. Não está prestes a desvanecer..."

Estou preocupado com Shiryu – Shura disse a ele. Estava sentado no banco de trás. – A luta dele foi muito dura. Se Seiya não tivesse aparecido…

Esse aí não morre fácil! – Máscara da Morte gritou lá do fundo do vagão. – Digo por experiência própria.

Hyoga pensou que, apesar do jeito rude de falar, ele tinha razão. Mesmo assim também estava preocupado com Shiryu e com Seiya. Por ora, ia cuidar só do que estava a seu alcance. Pegou o celular no bolso e digitou uma mensagem para Shun:

"Estamos voltando de Nikko. Natássia está bem, mas Shiryu está muito ferido. Vou levá-lo para o melhor médico da cidade examiná-lo. Chegaremos em meia hora. Te amo."

Hyoga enviou a mensagem com o rosto levemente corado de vergonha. Ainda estava se acostumando ao fato de que seus sentimentos não eram mais um segredo que ele escondia de Shun a qualquer custo. Recebeu a resposta quase imediatamente:

"Estarei esperando. Também te amo."

Quando chegarmos – o loiro disse a Shura –, vamos levá-lo ao hospital para Shun dar uma olhada nele. Pelo menos passar algum remédio para dor… Sei lá... Ele vai saber o que fazer...

Sim, devemos fazer isso – concordou Shura.

Papai, posso ir falar com o seu Máscara? – Natássia perguntou.

Hyoga permitiu, então ela pulou do colo dele e foi correndo para o fundo do vagão segurando uma sacolinha de doces.

Seu Máscara! Seu Máscara! – Natássia gritou.

Não vem, não, pirralha! – ele gritou de volta, cruzando os braços e rolando os olhos.

Ela não se intimidou.

Seu Máscara! É um nome engraçado! Obrigada de novo por salvar Natássia, seu Máscara!

Tá, tá… Agora sai daqui.

Olha o que eu comprei com o dinheiro que papai me deu! – Natássia balançou a sacolinha bem em frente ao rosto dele. – Você quer um, seu Máscara?

Não. Sai daqui.

Pega um, seu Máscara!

Já disse que não, pirralha!

Mas Natássia quer te dar um! Papai disse que não é educado recusar presente. Só se for de estranho, de estranho tem que recusar, mas eu não sou estranha!

E eu não sou eu educado! Cai fora!

Natássia vai escolher um pra você!

Máscara da Morte revirou os olhos novamente e murmurou:

Pirralha chata do cacete… Me dá logo esse negócio e vai lá encher o saco do seu pai!

Ele meteu a mão na sacolinha, pegou um doce qualquer e enfiou na boca.

Como se diz? – ela perguntou, parada, olhando fixamente para ele, a cabeça meio inclinada para um lado.

É o quê?

Tem que dizer obrigado! Papai me ensinou.

Vem, Natássia – Hyoga chamou, antes que Máscara perdesse o resto de paciência que tinha.

Papai, ele não disse obrigado!

É que o pai do seu Máscara não ensinou isso a ele… – Hyoga justificou rindo, e foi tirar a menina de perto do cavaleiro antes que ele explodisse o vagão.

Quando chegaram a Tóquio, Máscara da Morte foi levar Yoshino em casa, enquanto Hyoga, Natássia e Shura seguiram para o hospital levando Shiryu. Shun já estava esperando por eles no pronto-socorro e cumprimentou Hyoga com um abraço discreto, depois pegou Natássia no colo.

Oi, minha lindinha – ele cumprimentou. – Quero saber tudo do passeio, mas só depois, certo? Agora eu tenho que cuidar do dodói do tio Shiryu.

Tá bom, tio – ela respondeu. Depois tirou um punhado de doces da sacolinha e deu a ele. – Pra lanchar mais tarde.

Certo, meu amor. Obrigado.

O seu Máscara não disse obrigado porque o pai dele não ensinou.

Quê? – indagou Shun, sem entender.

Depois te explico – Hyoga disse e pegou a filha para que Shun cuidasse de Shiryu.

Shun sorriu e colocou Shiryu em uma cadeira de rodas, a qual empurrou até a sala de exames. Hyoga, Natássia e Shura seguiram-no até a porta, mas não entraram. Alguns minutos depois, um enfermeiro entrou na sala e depois saiu levando Shiryu.

Quero umas radiografias – Shun explicou a Hyoga. Depois acrescentou: – Será que você pode vir aqui na sala um momento?

Claro – respondeu o russo. – Shura, você pode olhar a Natássia um pouquinho?

O espanhol assentiu e os dois cavaleiros entraram na sala. Assim que fecharam a porta, trocaram um beijo ansioso e apaixonado.

Fiquei morrendo de preocupação quando você partiu às pressas para Nikko – Shun disse, ainda abraçado ao namorado e procurando recuperar o fôlego.

Está tudo bem, amor… Quando cheguei, tudo já tinha se resolvido.

O que foi que houve afinal? Shiryu está péssimo. Está cego de novo, como sempre acontece quando queima muito o cosmo. A dor para respirar acredito que seja de ordem muscular, mas quero umas radiografias pra descartar alguma fratura nas costelas.

Pois é, a luta dele foi dura... Era para ser só um passeio com as meninas, mas acabou nisso...

E o Seiya?

Eu não o vi. Quando cheguei, já tinha sumido de novo. Mas aparentemente ficou bem depois de receber o mesmo golpe que deu no Shiryu na Guerra Galáctica.

Parece que isso foi em outra vida… – Shun disse, pensativo.

Vai ver que foi – riu Hyoga.

Você era tão arrogante naquela época, lembra?

É, eu lembro – admitiu Hyoga. – Eu achava que era o melhor de todos... O mais bonito com certeza ainda sou.

Você é – concordou Shun com um sorriso que era ao mesmo tempo doce e sexy. – Eu ainda não te amava naquela época... Aconteceu um pouco depois… Mas eu só tive certeza no Santuário, quando eu salvei você na casa de Libra. Naquele momento, com você quase morto em meus braços, eu percebi que te amava tanto que faria qualquer coisa para que você vivesse.

Eu sinto isso agora – Hyoga declarou, pensando que não sabia exatamente quando começou, só que em algum momento percebeu que o que sentia por Shun era maior e diferente do que o que sente pelos outros. – Faria qualquer coisa por você e pela Nat...

Eu também. Aliás, o que houve com ela? Você saiu louco daqui porque sentiu que ela estava em perigo.

Um Sem Rosto a atacou… – explicou Hyoga. – E Máscara da Morte a protegeu.

Aquele Máscara da Morte? – surpreendeu-se Shun. – Era dele que a Nat estava falando?

Sim, dele mesmo. Também está de volta para proteger Yoshino e acabou protegendo a Nat lá em Nikko. No final das contas, ficou tudo bem. Você está de plantão a noite toda?

Sim… Só saio amanhã, ao meio-dia. Queria que eu ficasse com a Nat hoje?

Não. Hoje eu não vou para o bar. Não depois desse dia louco e estranho. Vou ficar em casa com ela, fazer um jantar gostoso. – Ele segurou a mão de Shun. – Queria que você fosse lá pra casa ficar com a gente, namorar um pouco... Fico com saudade... Com a correria da vida, não nos vemos tanto quanto gostaríamos.

Eu adoraria – Shun sussurrou ao ouvido dele. – De verdade. Pena que não posso, mas quando sair do plantão, prometo ir direto para a sua casa.

De repente, Hyoga percebeu que os dois mereciam mais que isso. Depois de tanto tempo reprimindo o amor que sentiam, eles mereciam mais que uns beijos na sala de atendimento, mais do que se encontrarem de vez em quando. Ele queria ter um abraço amoroso de Shun quando saísse para o bar. Queria dar um beijo nele e desejar um bom plantão quando ele saísse para trabalhar. Queria que ele pudesse conviver com Natássia todos os dias, ajudando a educá-la.

Eu acho que a gente devia morar mais perto um do outro – declarou o loiro. – Poderíamos nos ver mais facilmente. Talvez em um bairro perto da casa de Shiryu, porque eu não perderia tanto tempo no trânsito para deixar a Nat lá. Tudo seria bem mais fácil…

Shun sorriu ao imaginar como seria morar perto do seu amor, acompanhar melhor o crescimento de Natássia, dividir mais momentos com eles, conversar sobre o dia, fazer mais refeições juntos, tudo isso sem precisar atravessar a cidade.

Bom, sabe aquele prédio novo na rua da casa do Shiryu? – ele disse. – Tem vários apartamentos vagos... A gente podia dar uma olhada neles quando eu estiver de folga.

Vamos, sim – concordou Hyoga, e deu mais um beijo em Shun antes de abrir a porta da sala, feliz e cheio de planos para o futuro.

Continua...

Quase Sem Querer - Capítulo IV - Espadas

 

Hyoga estava tentando arrumar a bagunça espalhada pela casa quando a campainha tocou.

Shun! – ele exclamou alegremente ao abrir a porta e deparar-se com o amigo. 

Desculpe não ter avisado, eu sei que não é educado, mas queria exatamente fazer uma surpresa.

Você não precisa avisar, Shun – Hyoga disse, procurando conter um pouco sua alegria. Embora estivessem sempre se falando ou trocando mensagens por causa de Natássia, não se viam há três dias. Até tinha pensado em convidar Shun para um passeio, mas se sentia completamente esgotado e acabou desistindo.

"Antes passávamos semanas sem nos vermos", pensou o russo. "E tudo bem... Eu suportava tranquilamente. Mas agora em apenas três dias senti tanta falta da presença física dele, dos gestos suaves, do olhar sábio, do sorriso contido, do cheiro..."

Hoje é minha folga! – o médico anunciou. Trazia uma mochila nas costas e sacolas de supermercado cheias. – Então vim ver vocês!

Tio! – Natássia gritou quando o viu e veio correndo até ele.

Shun segurou a menina nos braços e ergueu-a no alto coisa que já estava virando um costume entre eles.

Como você está, Nat? – ele perguntou.

Tô bem, tio! – ela disse e deu um beijo no rosto dele. – Tava com saudade!

Eu também estava, querida. Tive muito trabalho nos últimos dias, mas hoje eu sou todinho de vocês.

Hyoga sentiu um leve tremor espalhar-se por seu corpo ao ouvir isso, pois desejava que fosse verdade em todos os sentidos da expressão. Estava acostumado a reprimir seus sentimentos, vinha fazendo isso há muito tempo, mas agora, depois de Natássia, já não sabia mais se era capaz de continuar agindo desse jeito.

Mandei imprimir as fotos que tirei dela – Shun disse, tirando um envelope da mochila. – Ficaram ótimas!

Deixa eu ver, tio! – Natássia pediu.

Vamos sentar e ver juntos? – ele sugeriu, então os três sentaram no sofá para ver as fotos.

Ficaram realmente boas – disse Hyoga. – Especialmente essa de nós três no parque.

Eu também gosto muito dessa. Fiz uma cópia dessa pra mim de tão perfeita que ficou. Você ficou muito bem nela, mas hoje sua cara está horrível.

É, eu sei. Tenho dormido pouco para dar atenção a ela. Às vezes nem durmo. É cansativo, mas é tanto amor, Shun. Quero muito fazê-la feliz. Falei com a Saori ontem, e isso foi bem difícil, pois ela anda cada vez mais reclusa… A Fundação vai me ajudar a providenciar documentos. A Nat precisa "existir" legalmente, precisa ter documentos, plano de saúde, talvez ir para a escola algum dia, essas coisas.

Você quer dizer forjar documentos?

Mais ou menos isso...

Bom, que seja. Meus documentos do ensino médio também não são verdadeiros. E pode contar comigo para o que precisar. Médico ela já tem, né? E meu diploma é verdadeiro!

Obrigado, Shun – ele agradeceu rindo e pousou uma mão na perna do amigo. – Por tudo, tudo mesmo.

Shun sorriu, mas seu corpo ficou tenso. Aquela mão não queria dizer nada, queria?

"Não", ele respondeu em pensamento. "Estou imaginando coisas. Todos esses anos e ele nunca demonstrou sentir nada por mim além de amizade. Isso é só porque eu estou ajudando com Natássia. Melhor esquecer... Melhor não criar expectativas."

Eu vim passar o dia inteiro com vocês – ele disse, afastando seus pensamentos e levantando do sofá. – Vim de mochila e tudo porque pretendo passar a noite com ela para você poder ir trabalhar tranquilo. Pretendia ficar quietinho, vendo uns filmes com ela, mas você está com essa cara horrível, parecendo que não dorme há semanas. Acho melhor levá-la para passear um pouco e deixar você descansar. O que acha?

Eu agradeço demais, Shun, mas você não tem obrigação... Vai perder sua folga pra cuidar da minha filha?

Eu quero fazer isso! – Shun retrucou. – Quero ajudar a cuidar da sua filha. Não estou "perdendo" a minha folga. Adoro ficar com ela. Vou sair com a Nat e você vai descansar.

Tá, então vou arrumá-la.

Vai dormir. Eu faço isso.

Não, só vou dormir quando vocês saírem. Quero me despedir dela.

Enquanto o pai a arrumava sob o olhar de Shun, Natássia não perdeu a oportunidade de sanar a curiosidade que a atormentava.

Tio Shun, você também tem aquele negócio do papai? – ela perguntou.

Que negócio? – Shun perguntou. – Do que está falando?

Ai, Natássia, agora não – pediu Hyoga, já sabendo do que ela estava falando. Ela o ignorou.

Aquele negócio de fazer xixi. O do papai é diferente do meu. Eu quero um daqueles!

É que seu pai é menino… – Shun começou a falar, tentando ficar sério, mas ela o interrompeu:

E eu sou menina! Já sei! Ele disse! Você tem?

Bom, eu também sou menino, então… é, eu tenho – ele respondeu.

Outra hora a gente conversa sobre isso, querida – disse Hyoga, fechando o zíper do vestido dela, um modelo bege com bolinhas pretas e babadinhos rendados. – Agora você está linda, princesa!

Eu não quero ser princesa, quero ser herói! – protestou a menina.

Se diz heroína – corrigiu Hyoga, e foi inevitável lembrar que ela tinha dito a mesma coisa durante a batalha onde se enfrentaram. Achou que ela podia ter alguma lembrança em seu subconsciente, ou talvez fosse simplesmente uma vontade de criança que ela expressou mesmo quando estava possuída.

Você pode ser o que quiser – ele continuou. – Até mesmo uma princesa heroína.

Com uma espada grande? Quero uma espada!

"Outra lembrança?", perguntou-se Hyoga. "Ela também quis uma espada quando lutávamos..."

Vamos ver – ele respondeu, ligeiramente preocupado. – Se você se comportar bem pode ganhar uma espada.

Eu vou me comportar! Prometo.

Certo. Agora vá com o tio Shun. Seja uma menina educada e não fique pedindo para ele comprar coisas pra você.

Tá. Eu volto já, papai.

Natássia abraçou Hyoga com seus bracinhos magrelos e ganhou dele um beijo na bochecha. Depois ela agarrou a mão de Shun e os dois seguiram para o shopping, onde almoçaram, viram um filme e ele a presenteou com roupas e com a espada de plástico que ela tanto queria.

No final da tarde, voltaram para a casa de Hyoga, que estava totalmente silenciosa.

Parece que seu pai ainda está dormindo – Shun disse.

– Natássia vai lá acordar ele! Quero mostrar o que eu ganhei!

Não, Nat. Vamos deixar ele descansar, sim? Além disso, preciso da sua ajuda para fazer o jantar! Você vai me ajudar?

Vou! – ela gritou animada e foi com ele para a cozinha.

Quando Hyoga acordou, já passava das oito da noite e ele encontrou o companheiro médico sozinho na cozinha.

Olá, dorminhoco – cumprimentou Shun. – A Nat cansou e dormiu, então eu a coloquei na cama. Estava fazendo umas comidinhas para vocês, coisas práticas para deixar congeladas e só aquecer no micro-ondas quando vocês precisarem.

O que eu faria sem você, hein? – perguntou o loiro.

Shun voltou-se para ele e deu um sorriso tão encantador que aqueceu o coração de Hyoga e despertou de novo aquela vontade há muito reprimida. Queria beijá-lo. Queria muito tê-lo em seus braços. Então decidiu: era agora ou nunca. Tinha que aproveitar o momento ou talvez o perderia para sempre.

Eu pensei muito, mas muito mesmo sobre isso… – Hyoga começou a falar, a voz falhando a cada palavra.

Isso? – Shun perguntou.

E tomei coragem por causa da Natássia... Eu não quero mais ser um covarde. Não é isso que eu quero ensinar para a minha filha.

Você não é covarde. De onde tirou isso? É um dos homens mais corajosos e fortes que eu conheço.

Deixa eu continuar, senão vou fraquejar. Pode ser que eu esteja fazendo tudo errado e esteja acabando com a nossa amizade, mas não aguento mais! Eu te amo tanto, Shun. Te amo desde aquela época, desde a adolescência… Pronto. É isso. Eu sempre te amei. Sempre tive medo do que eu sinto, mas agora eu não quero mais ter medo. Adotar a Natássia me abriu os olhos. Precisamos ter coragem nessa vida, senão ficamos estagnados como eu fiquei todos esses anos. Não me importa se somos filhos do mesmo pai. Não me importa mais nada. Só que eu te amo, amo a Nat e quero formar uma família com vocês.

Com os olhos inevitavelmente marejados, Shun fitava o loiro. Estava surpreso, emocionado e também confuso diante do que estava acontecendo. Hyoga tinha acabado de se declarar? Era isso mesmo? Ou ele estava ouvindo coisas?

Você não vai me dizer nada? – perguntou Hyoga, tentando ler a expressão de Shun. Ele estava claramente comovido, mas por que não dizia nada?

Shun respirou fundo e dedicou ao loiro seu olhar mais doce.

Eu também te amo, Hyoga – ele declarou, aproximando-se e tocando a face do loiro. – Também sempre te amei. Por que a gente levou esse tempo todo pra dizer isso, hein? Podíamos ter sido tão felizes.

Ainda podemos ser – Hyoga disse, e aproximou-se ainda mais de Shun. – Nós seremos.

Esperei tanto por isso – murmurou o médico e finalmente beijou Hyoga, mordiscou os lábios, buscou a língua dele com a sua, deixou que ele fizesse o mesmo.

O loiro o puxou mais para si, deixando as mãos passearem pelas costas de Shun. O desejo reprimido avolumava-se rapidamente, fazendo os corpos de ambos reagirem. Calaram tanto o amor e o desejo que sentiam um pelo outro que não podiam esperar mais.

Melhor a gente ir para o quarto – sussurrou Hyoga. – A Nat pode acordar e vir aqui na cozinha...

Shun concordou e seguiu Hyoga. Lá dentro, fecharam a porta, assegurando-se de trancá-la com chave, e finalmente entregaram-se ao amor por horas.

E agora? – perguntou o loiro ainda arfando, com Shun em seus braços.

Agora estamos juntos…

Como vamos fazer com a Nat? Vamos falar para ela?

Não acho que precisamos falar – Shun respondeu e fez um carinho no peito de Hyoga. – Ela vai perceber em algum momento. Se já não percebeu. Criança tem uma sensibilidade que você nem imagina... E se ela perguntar, falaremos com naturalidade que nos amamos. Ela vai entender.

Certo – Hyoga assentiu e deu mais um beijinho nele. – Você é o sábio aqui.

Não… somos dois bobos por termos esperado tanto.

Continua...

Quase Sem Querer - Capítulo III - Consequências

 

Depois de deixar Natássia na casa de Shiryu, Hyoga foi para o bar e tentou trabalhar, mas estava cansado, com sono e completamente disperso. Não fez nenhuma besteira, acertou todos os drinques, porém hoje isso lhe exigiu o dobro de concentração. Clientes e funcionários quiseram saber o que estava acontecendo com ele, mas o cavaleiro barman simplesmente se esquivou das perguntas a noite inteira porque ainda não estava pronto para falar sobre Natássia com pessoas fora do seu pequeno círculo íntimo de amizade.

Depois de fechar o bar, ele resolveu não voltar para casa, que ficava bem distante da de Shiryu. Dormiu em um hotel-cápsula perto do estabelecimento e às sete da manhã foi buscar a filha como combinado. Encontrou-a de banho tomado, penteada e tomando o café da manhã com Shiryu e Shunrei.

Papai! – ela gritou ao vê-lo e correu para abraçá-lo. – Natássia estava com saudade!

Oi, amor! – ele cumprimentou, pegando a menina no colo e beijando-a. – Como foi com os tios?

A tia Shunrei faz comida gostosa e eu gosto dos gatinhos! Meu gatinho é tão lindo! Não dá mesmo pra levar agora?

Não, não dá, querida. Já acabou seu café?

Ah, não! Ainda quero comer!

Senta aí, Hyoga – convidou Shiryu, sorrindo. – Toma café conosco. Você está com uma cara péssima.

Obrigado – ele agradeceu e sentou-se à mesa. – A cara está péssima mesmo, eu sei. Dormi poucas horas num hotel-cápsula perto daqui, mas estou mesmo é com fome. Nem lembro quando foi que comi.

Fique à vontade, Hyoga – Shunrei disse. – Temos baozi fresquinhos, ovos mexidos, mingau de arroz.

Um café da manhã chinês em Tóquio – disse Hyoga, provando um dos pãezinhos – Nossa! Isso está muito gostoso!

A gente sai da China, mas a China não sai da gente... – comentou Shiryu.

Tô vendo... Está tudo delicioso! Pessoal, eu não consegui ninguém pra ficar com a Nat hoje…

Pode deixar ela conosco sempre que precisar, Hyoga – Shunrei disse. – De verdade. Não é incômodo nenhum.

Traga ela de novo – Shiryu reforçou. – Vamos estar em casa.

Muito obrigado mesmo. Vocês são incríveis. E aqui eu sei que ela vai comer bem!

Não quero mais que vá trabalhar – Natássia disse.

Meu amor, papai precisa trabalhar. Ainda mais agora que tenho você!

Mas você ficou a noite todinha lá! Não é justo!

Você chegou muito rápido. Ainda estou adaptando as coisas. Vou arrumar alguém de confiança para ficar no bar e aí poderei passar mais tempo com você, mas por enquanto vai ter que ser assim.

Natássia cruzou os braços, emburrada.

Vamos lá, seja boazinha. Não foi legal ficar com o tio e a tia? Não gostou de brincar com os gatinhos?

Gostei, mas quero você!

Prometo que resolverei isso logo, está bem?

Está bem… – ela falou, ainda meio relutante.

Depois de saborearem o café, Hyoga foi para casa com Natássia. Dormir no hotel-cápsula não tinha sido o suficiente e ele se sentia muito cansado, enquanto ela estava cheia de energia. Mesmo exausto, ele resolveu dar uma volta no parque para a menina brincar um pouco, correr e se cansar. Antes de ir, ligou para Shun.

Oi. Te acordei? – Hyoga perguntou.

Não – respondeu o médico, mentindo. Olhou o relógio, passava das nove da manhã, mas ele tinha acabado de chegar de um plantão e ainda não tinha dormido nem duas horas.

Você vai trabalhar agora?

Não. Estou de folga hoje.

Estou pensando em levar Natássia ao parque. Depois almoçar em algum lugar legal. Tá afim?

Lógico! – respondeu Shun, esfregando os olhos. – Chego aí em uma hora.

Hyoga assentiu e desligou o telefone, feliz por Shun aceitar o convite. Depois ligou a TV e colocou em um canal infantil.

Vou tomar banho – ele disse a Natássia. – Depois a gente vai sair com o tio Shun. Fique quietinha aí. Já volto.

Tá bom! – ela disse, empolgada, e sentou no carpete para assistir TV.

Hyoga pretendia tomar um banho tranquilo e relaxante, coisa que ainda não tinha conseguido fazer desde a chegada de Natássia. Só conseguia tomar duchas rápidas, então deixou-se ficar sob o chuveiro, sentindo a água morna caindo sobre a cabeça. Fechou os olhos, pensando na filha. Estava convicto de que ficar com ela era a coisa certa, não passava pela sua cabeça desistir, mas precisava organizar os pensamentos a fim de organizar também sua nova rotina. Mais tarde ia entrevistar um barman novo e esperava que ele fosse bom o suficiente para substituí-lo algumas vezes. Se desse certo, seria um alívio e o resto se adaptaria aos poucos.

Então inevitavelmente pensou em Shun… em como ele sempre estava lá para ajudá-lo… Dessa vez não tinha sido diferente. Também estava disponível para ele, embora o cavaleiro raramente precisasse. Tinha se tornado tão forte, tão autossuficiente, tão admirável. Um médico! Depois de tudo que tinham passado, Shun ainda tinha encontrado coragem e determinação para estudar e se tornar um doutor. Ele era tão incrível! Se não fossem… irmãos… Teria coragem… Talvez tivesse… Queria tanto ter coragem mesmo assim… Pouca gente sabia que eram filhos do mesmo pai… Pouca gente, tão pouca… Ninguém mais precisava saber… Queria tanto que… pudessem...

Papai! – Natássia gritou assustada. Estava dentro do banheiro, olhando fixamente para Hyoga, com os olhos arregalados.

Morto de vergonha, ele procurou cobrir a nudez com as mãos. Depois pegou rapidamente a toalha e enrolou-se. Uns poucos segundos a mais e a situação seria ainda pior, já que estava pensando... nele...

Eu não disse para ficar quieta vendo TV? – ele perguntou, saindo do box e lamentando o hábito de solteiro de não trancar a porta.

É, mas me deu vontade de fazer xixi… – ela disse e apontou para o ventre dele. – Por que você tem isso e eu não tenho? Tira a mão! Deixa eu ver direito! Tem cabelo aí!

Natássia! – ele ralhou, sentindo a face queimar de vergonha. Não imaginou que essa conversa fosse acontecer tão cedo, mas respirou fundo e seguiu em frente, precisava explicar a ela. – É porque você é menina e eu sou menino. Meninos são como eu, meninas como você. Mas escute, você não pode entrar no banheiro assim quando outra pessoa estiver dentro. Não só no banheiro, em qualquer lugar. Você tem que bater à porta primeiro, chamar, e esperar que a pessoa abra ou mande você entrar. Entendeu?

Ela não respondeu. Inclinou um pouco a cabeça para o lado e piscou os olhos repetidamente.

Você entendeu, amor? Tem que bater na porta… – ele repetiu a pergunta e completou em pensamento: E eu tenho que fechar essa maldita porta… – Responde para o pai, Nat.

Eu quero um desses! – ela gritou e começou a dar pulinhos.

Hyoga bateu a palma da mão na testa e gentilmente a escoltou para fora do banheiro.

Volta para a sala, amor.

Cerca de uma hora depois, encontraram-se com Shun no parque.

Tiooooo! – Natássia gritou e correu para o médico, que a pegou nos braços e a ergueu no alto.

Você está tão linda! Quem te deu essa roupa?

Você!

Eu mesmo!

O médico a colocou no chão e arrumou a saia de pregas que ela usava.

Você não dormiu, né? – Hyoga perguntou a ele. – Tá com uma cara horrível.

Não importa. Tô acostumado. E quanto à cara, a sua também está péssima.

É, eu também não dormi.

E aí? Qual é o plano?

Deixar ela correr um pouco pelo parque, queimar energia, depois almoçar, voltar para casa e com fé em Deus ela vai dormir e eu também.

Boa sorte! – Shun deu uma gargalhada.

O que foi?

Nada... Só acho que ela não vai dar muita bola para os seus planos.

Mais tarde, depois do almoço, Shun, Hyoga e Natássia foram para a casa do russo. A menina ainda não parecia dar sinais de cansaço, pulava e corria pela casa, pegando brinquedos no quarto para mostrá-los a Shun.

– Eu avisei que ela não ia seguir seu plano – Shun disse, vendo o estado deplorável do amigo. – Vai dormir, Hyoga. Eu fico com ela até a hora de levar lá na casa do Shiryu. Só não fico o resto da noite porque eu também vou precisar dormir um pouco.

O russo estava tão cansado que nem tentou argumentar. Saiu arrastando os pés e se jogou na cama. Quando acordou horas depois, Shun já tinha preparado o jantar e arrumado a mochila de Natássia.

Vamos comer logo – Shun disse. – E aí eu vou para casa e você leva ela no Shiryu.

Hyoga assentiu, pensando que, por enquanto, Shun e Shiryu eram a solução perfeita mas isso não podia durar muito tempo e achar uma babá ia ser bem mais difícil do que ele pensava por causa do “problema” de Natássia ser uma criança "diferente"… Definitivamente ão podia ser qualquer pessoa.

Os três jantaram juntos e despediram-se, Shun seguiu para casa e Hyoga levou Natássia para a casa de Shiryu.

Hoje ela está cheia de energia, Shunrei – ele avisou quando deixou a menina.

Pode deixar comigo que eu dou conta – riu Shunrei. – Vamos ver seu gatinho?

Natássia arregalou os olhos e saiu saltitando atrás de Shunrei.

Eu vou resolver essa situação logo – Hyoga disse a Shiryu. Prometo. Eu só não quero deixar ela com qualquer pessoa porque ela é… diferente.

Relaxa, Hyoga. Não é incômodo nenhum cuidar dela. Está tudo bem. Shunrei adora crianças e agora Shoryu já é um homem, está lá em Rozan. Ela sente falta de ter uma criança em casa. Estamos tentando ter um filho biológico há vários anos, mas parece que o destino não quer colaborar.

Paciência, meu amigo. Vai vir quando for a hora.

Tudo bem, acho que estamos tranquilos quanto a isso. Virá algum dia, biológico ou outro adotivo. Shoryu e Natássia vieram de surpresa, não é? Quem sabe o destino não tem uma surpresa para nós também...

É, vieram... Ela veio quase sem querer, é birrenta, teimosa, contestadora, mas eu já a amo e não me vejo mais sem ela. Preencheu minha vida de um jeito que eu não podia imaginar… Ficaria horas falando, mas realmente tenho que ir agora. Hoje venho pegá-la às dez, tudo bem?

Tudo. Não durmo cedo. Às vezes nem durmo… Depende das dores que eu estiver sentindo.

E assim ele fez. Passou no bar, organizou tudo e delegou algumas tarefas. Quando tudo estivesse resolvido e um novo barman contratado, ele pretendia fazer assim todos os dias. Sair mais cedo, dormir em casa com ela, acordar, fazer o café para tomarem juntos.

Na hora combinada, Hyoga voltou à casa de Shiryu para pegar Natássia. A menina já estava dormindo e ele levou-a no colo até o carro e de lá para casa. Colocou-a na cama, programou o alarme no celular para sete horas e foi dormir do jeito que estava, só tirou a camisa.

Quando o alarme tocou, ele o desligou e foi caminhando para a cozinha, bocejando e esfregando os olhos, lutando para mantê-los abertos. Normalmente dormia até o meio-dia ou mais por isso acordar cedo era um martírio, mas ia acabar se acostumando... Tinha que se acostumar.

Ué... que água é essa? – ele perguntou-se ao pisar no chão molhado do corredor que dava para a cozinha. Ao entrar no cômodo viu a torneira aberta, o ralo fechado e a água escorrendo pelo piso. Primeiro pensou que tinha deixado aberto sem querer, mas lembrou que não foi à cozinha quando chegou. Então ele soube.

Natássia...

Esfregou os olhos mais uma vez, fechou a torneira e abriu o ralo para que a água acumulada descesse. Pegou um rodo e começou a empurrar a água para o ralo do piso. Depois começou a enxugar o restante.

Ele ainda enxugava tudo quando Natássia apareceu na porta da cozinha, de pijamas, agarrada com o urso polar de pelúcia que foi presente dele. Hyoga respirou fundo. Não queria brigar com a filha, mas ela precisava ser educada e entender que o fez foi errado. Ele se ajoelhou no chão molhado e dirigiu-se a ela.

Natássia, você fez isso de propósito? – ele perguntou. Ela abaixou o olhar, evitando encará-lo e não respondeu. – Natássia, estou perguntando se você fez isso por querer. Responda ao papai e não minta.

Eu acordei de madrugada e abri a torneira – ela confessou, ainda olhando para o chão. – Achei que molhando tudo você ia ficar enxugando e não ia trabalhar hoje.

Isso não foi certo. Não é assim que resolvemos as coisas. Dessa vez não vou castigá-la, mas não quero que isso se repita. Se você fizer algo assim outra vez, vou precisar colocá-la de castigo.

Castigo… – ela repetiu, com voz chorosa e olhinhos marejados. – Castigo não...

Não vou colocar agora, Natássia. É só se você fizer de novo algo assim, entendeu?

Entendi, papai.

Assim está bom – ele disse e abraçou a menina. Depois pegou um pano de chão. – Agora você vai pegar esse pano e ajudar a enxugar tudo.

Ah, não!

Ah, sim! Tudo o que a gente faz na vida tem consequências. Aprenda isso.

Não gostei de consequências.

Então da próxima vez pense bem antes de fazer travessuras. Vamos, guarde o urso e venha ajudar.

O nome dele é Oguinha.

Hyoga sorriu. Essa menina sabia como conquistar o coração dele, nem precisava fazer nada, mas dar o nome de Oguinha ao urso foi golpe baixo. Mesmo com o coração derretido de amor, ele tinha que ser firme com ela se quisesse educá-la bem.

Coloque o Oguinha para descansar no sofá e venha ajudar o papai. Depois que enxugarmos tudo, vamos tomar café, sua danadinha.

Quero comer bolo no café! – ela gritou e foi colocar o urso no sofá.

Bolo, Natássia? Não serve panqueca?

Não! Quero bolo!

Tá, vamos enxugar tudo e tomar café na padaria.

Vou levar o Oguinha com a gente, certo?

Certo, amor – ele sorriu, totalmente vencido por Natássia e Oguinha.



Continua…



Oie!

Eu rachei de rir quando o Hyoga falou que Natássia tinha inundado a cozinha. Como assim, você não desenhou essa cena, Okada? Ia ser incrível! Então, como ele não desenhou, eu quis muuuuito escrever a cena! E não resisti a mais um golpe! Primeiro a Shunrei com o golpe dos filhotinhos, agora Nat e o golpe do urso Oguinha!

Obrigada a todos que estão acompanhando!

Beijoooo

P.S.: Depois da maravilhosa aparição de Shoryu no capítulo 77 do Episódio G Assassino, adaptei a parte do capítulo onde Shiryu falava que ainda não tinha filho. *_*

Quase Sem Querer - Capítulo IX - Parabéns

– Prontinho – Shunrei anunciou enquanto admirava sua obra concluída: o bolo esculpido em formato de gato para o aniversário de Natássia. O...