23 de janeiro de 2021

Quase Sem Querer - Capítulo IX - Parabéns


– Prontinho – Shunrei anunciou enquanto admirava sua obra concluída: o bolo esculpido em formato de gato para o aniversário de Natássia.

O animal era a nova obsessão da menina desde que ela finalmente levou para casa os filhotes prometidos pela chinesa. Hyoga bem que tentou fazer a filha desistir, não queria que ela ficasse nem com um, mas quando Natássia explicou que queria dois para chamá-los de Camus e Isaak o russo foi vencido. E acabou sendo obrigado a levar um terceiro, que Natássia chamou de Seu Máscara.

– Ficou lindo, Shunrei.

– Obrigada, Hyoga. Fiz como ela pediu. Glacê branquinho.

– Ela vai amar. Eu agradeço por você e Shiryu terem deixado fazer a festinha no jardim. A casa de vocês é bem mais espaçosa que o nosso apê.

– Não precisa agradecer – Shiryu disse a ele enquanto colava no muro letras de papel laminado formando um “Feliz Aniversário, Natássia”. Ao redor, já tinha colocado os balões cor-de-rosa. – Vá se arrumar e deixe que a gente termina a decoração.

– Temos dezessete festas de experiência – Shunrei completou rindo.

– Por falar nisso, o Shoryu não vai participar?

– Vai, só foi buscar a namorada.

– Namorada, Shiryu???? – espantou-se Hyoga. – Até ontem ele era um menino.

– Pois é, meu garotinho cresceu e está namorando. Estamos velhos, companheiro...

– Estamos… – Hyoga foi obrigado a concordar. Um pensamento incômodo surgiu em sua mente: em alguns anos, seria a vez de Natássia aparecer com um moleque e apresentá-lo como namorado. De repente, ele já estava pensando que chegaria a hora do sexo e balançou a cabeça com força para afastar o pesadelo. – Cuidado com o netinho.

– Nem fale nisso! – Shunrei exclamou rindo.

– Eu já conversei com ele, já disse pra tomar cuidado e ter responsabilidade pois nós não vamos criar netos…

– Ele deve ter ouvido um sermão.

– Ouviu mesmo. Agora vai porque daqui a pouco o pessoal começa a chegar e nem a aniversariante nem os pais estarão aqui.

Hyoga concordou e correu para se arrumar ainda pensando no que o futuro traria para Natássia. E torcendo para demorar bastante até ela começar a pensar em relacionamentos.

Pouco depois que ele saiu, o Rolls-Royce de Saori parou bem em frente à casa de Shiryu e o próprio foi recebê-los. Alegrou-se por vê-la sair do carro de mãos dadas com Seiya. Depois de tanto tempo negando, eles finalmente assumiram seus sentimentos. Sua costumeira discrição o impedia de comentar, por isso ele apenas os convidou a entrar e desculpou-se por Hyoga, Shun e Natássia ainda estarem se arrumando.

– A June veio dirigindo mas disse que não vai entrar – Seiya entregou. – Eu falei que era pra vir comemorar conosco mas ela está irredutível.

–Pode deixar que eu vou falar com ela.

Enquanto Shiryu foi convencer a amazona a participar da festinha, Shunrei veio cumprimentar os convidados. Saori deu-lhe um abraço apertado.

– Shunrei… há quanto tempo não nos vemos, não é?

– É verdade, senhorita Kido. É um prazer recebê-la aqui em casa.

– Só Saori, por favor. O jardim de vocês é realmente lindo. Ouço falar muito dele, não é, Seiya?

– Acho que eu falei um pouquinho demais… – embaraçou-se o cavaleiro que, desde o seu retorno, vinha frequentando a casa do amigo e ouvindo os sábios conselhos dele. Por incentivo dele que resolveu confessar a Saori seus sentimentos e agora finalmente estavam juntos.

– É bom ver que vocês conseguiram ter uma vida normal apesar de tudo – Saori comentou.

– Com algumas idas ao hospital – riu Shunrei –, mas tudo bem. Já estou acostumada.

– Isso faz parte de ser o que somos – Seiya completou.

– Ainda bem que a gente não paga a conta – acrescentou Shiryu, que voltava para dentro com June, arrancando risadas dos presentes.

Eles se acomodaram em uma mesa e Shunrei serviu-lhes bebidas e quitutes. Pouco depois, Shun e Hyoga chegaram com Natássia.

– Desculpem a demora Shun lhes disse. É que essa mocinha estava impossível, dando trabalho para se arrumar. Não teve jeito de fazê-la vestir a roupa que escolhi.

– Natássia que escolheu! – ela disse exibindo aos convidados o traje rosa da cabeça aos pés, incluindo meia-calça e tiara de orelhinhas de gato felpudas. Shun queria que ela vestisse um elegante vestido azul-marinho com delicados bordados brancos, mas ela bateu o pé e ele não teve alternativa a não ser ceder.

– Então vocês dois… – Shun comentou sobre Seiya e Saori.

– Pois é… – admitiu o cavaleiro timidamente como se ainda fosse aquele garoto de treze anos.

Igualmente tímida, Saori apenas sorriu.

– Fico feliz por vocês.

– E nós por você e Hyoga – Seiya completou e Shun sorriu cúmplice. Os dois conheciam bem o tormento de negar os próprios sentimentos, provavelmente por tempo demais, e agora ambos também conheciam a felicidade de ter coragem de viver o que perderam.

Sereno, Shiryu apenas os observava em silêncio, grato por, felizmente, não ter passado pelo mesmo dilema que eles.

Na ponta da mesa, ligeiramente afastada, June também pensava na própria vida, nos anos de juventude que perdeu enquanto ainda alimentava esperanças de ter algo com Shun.

– É aqui que é a festa? – uma voz grave surpreendeu a todos.

– Tio Ikki!! – Natássia berrou e correu para ele.

– Oi, sua pentelhinha. Feliz Aniversário.

Ela o abraçou, agradeceu e indicou a caixa onde o tio devia deixar o presente amarfanhado que trazia consigo.

– E aí, pessoal? – ele cumprimentou depois de jogar o embrulho na caixa.

– Olha isso, ele veio! – Seiya debochou. – Que milagre.

– Você também, animal. Tava mais sumido que eu.

Seiya pulou nele igual a Natássia, deu um abraço apertado e um beijo na bochecha.

– Eu tava com saudade, seu marrento.

– Para, idiota! O tempo passa e você fica mais retardado!

– Eu também te amo!

Enquanto Ikki tentava se desvencilhar do abraço de Seiya, Shoryu chegou com a namorada deixando os pais boquiabertos.

– Yoshino? – Shiryu indagou ao finalmente ver quem era sua norinha.

– Oi, pessoal! – ela cumprimentou acenando meio sem jeito. Já conhecia todo mundo ali, mas ser apresentada como namorada de Shoryu era uma coisa nova e embaraçosa.

Shiryu respirou fundo pensando que teria de conversar ainda mais sério com o filho porque Yoshino tinha um pai grande e uma mãe muito, muito brava...

– Olá, Yoshino – disfarçando a surpresa, Shunrei cumprimentou a garota com um abraço. – Seja bem-vinda.

– Eu ia contar antes mas ela pediu pra manter segredo por um tempo… – Shoryu explicou.

– É que eu queria contar pra meus pais primeiro, mas também queria vir na festa da Nat, então é isso. Estamos namorando.

– Fico feliz – Shunrei disse sinceramente. Os dois se conheceram em uma reuniãozinha que deram após a batalha, mas ela não imaginava que tinham se apaixonado.

– Que bom que não foi uma surpresa desagradável.

– Imagina. Você é uma menina incrível, Yoshino. Estamos felizes.

– Yoshi!!! – Natássia gritou e correu até ela. – Você veio!

– Claro! Achou que eu ia perder seu aniversário?

– E tá segurando a mão do Sho…

Ele agachou-se para explicar:

É que eu e ela estamos namorando.

Natássia pensou por alguns segundos, berrou um “ah, tá” e praticamente arrastou Yoshino para ver o bolo e a decoração da festa.

Logo em seguida, Mama também chegou para completar o grupo, que conversou, comeu e bebeu animadamente até Natássia ficar impaciente para cortar o bolo.

Todos se reuniram ao redor da mesa do bolo e antes de começarem a cantar os parabéns, Hyoga fez um pequeno e emocionado discurso.

– Se hoje estamos aqui comemorando esse ano com Natássia é porque um homem conseguiu salvar a vida dela em um momento onde eu cheguei a pensar que estava tudo perdido… O último homem na face da Terra que eu pensei que nos ajudaria. O Máscara da Morte conseguiu manter nossa Natássia nesse mundo e, onde quer que ele esteja, seremos sempre gratos.

– Que ele e os outros estejam em paz – Shun completou. – É uma pena que não possam estar conosco nesse dia.

Depois de um breve silêncio em respeito aos companheiros, Hyoga acendeu a velinha de número um e Shoryu se posicionou com a câmera para filmar tudo enquanto Shunrei fotografava com outra.

Natássia não continha a excitação e pulava em cima de um banquinho enquanto Hyoga se virava para garantir que ela não caísse. Na hora de apagar a velinha, os dois pais ajudaram-na e terminaram um beijo duplo, um em cada bochecha, momento que Shunrei capturou perfeitamente com sua câmera.

– Esse bolo parece um gato morto – Ikki debochou para Shun depois dos parabéns. – E vela de um ano? Tá doido? A menina deve ter uns seis.

– É que fez um ano hoje que ela entrou nas nossas vidas. Não sabemos quando ela nasceu, nem a idade real dela, então colocamos esse dia na certidão de nascimento que a Fundação arrumou daquele jeito…

– Sei. Essa Fundação é uma fábrica de documento falso.

– Não posso reclamar. Ah, e não fala isso do bolo perto do Shiryu porque foi a Shunrei que fez.

Ikki grunhiu algo e foi buscar mais uma cerveja.

Natássia divertiu-se comendo bolo e abrindo os presentes que ganhou dos tios. Enquanto isso, os adultos saboreavam pratos salgados e drinques preparados por Hyoga e o casalzinho adolescente foi para um cantinho mais reservado do jardim, o banco de madeira embaixo da cerejeira, feito pelo próprio Shiryu.

A festinha estendeu-se até tarde, mesmo assim Natássia não parava e Shun e Hyoga enfrentaram uma batalha para levá-la para casa. Queriam que ela estivesse descansada pois o dia seguinte era importante para a família: o primeiro dia de aula da menina.

Finalmente conseguiram levá-la para casa, mas ela não planejava se aquietar. Passou boa parte da madrugada empolgada com os presentes e falando da festa, até finalmente ser vencida pelo cansaço e adormecer no colo de Hyoga.

Depois de colocá-la na cama, os dois puderam se recolher também.

– Um ano com ela passou rápido, né? – Shun indagou.

– É... Parece que ela sempre foi minha filha.

– Minha também. Eu tinha uma vida boa antes, mas solitária, você sabe. Agora eu não poderia viver sem vocês.

– Nem nós sem você, doutor. Eu te amo mais que nunca por você ter se tornado quem se tornou.

– E eu te amo por quem você é, seu russo teimoso. Mas vamos dormir porque amanhã temos que acordar cedo para levar nossa princesa à escola.

– Dormir? – Hyoga indagou de modo sensual e deslizou uma das mãos pelo peito alvo do marido. – Eu tinha outra coisa em mente...

– Ah, é? Não está com sono?

– Eu sou dono de bar, tô acostumado a virar noite. Tá cansadinho, é?

– Eu sou médico, viro noites de plantão, meu querido. Sou uma máquina.

– Hum… Ele é uma máquina… – Hyoga riu. – Então me mostra.

Shun não fez caso e se entregou aos carinhos do homem que amava.

Na manhã seguinte, os dois estavam cansados e sonolentos, mas tão felizes que não importava. Enfrentaram com sorrisos a relutância de Natássia para acordar, arrumaram-na e foram levá-la à escola, que ficava bem perto de casa, bastando atravessar um parque.

Enquanto Shun fotografava cada passo da filha, Hyoga lutava para controlar a emoção. Quando chegaram ao prédio, Natássia deu um tchauzinho sonolento para os pais e entrou sem cerimônia, para desespero do pai russo, que começou a debulhar-se em lágrimas.

– Para de chorar, Oga. Ela não está indo para a guerra, é só o primeiro dia de aula.

– E se ela se sentir estranha? Se ela não se adaptar? Se ela sofrer bullying? Se puxarem o cabelo dela?

– Ela vai se dar muito bem. Ela conquistou até o Máscara da Morte, acha que ela não vai tirar de letra uns gurizinhos? E vá se acostumando, logo ela vai passar a vir com as outras crianças.

– Não vai, não! Virei trazê-la todos os dias. Eu sei que a cidade é segura, mas se tiver um maníaco à solta?

Shun riu e balançou a cabeça sem acreditar no quão dramático era o marido.

– Eu vou ficar aqui esperando – Hyoga continuou. – Vai que ela se sente mal e quer ir embora antes da hora…

– Se acontecer alguma coisa eles ligam. Ai, Hyoga, isso é para ser um momento feliz. A gente sonhou tanto com o dia que ela poderia fazer tudo que as crianças normais fazem e graças ao Máscara da Morte ela tem essa chance. É um momento para celebrar.

– Estou celebrando, mas e se…

– Chega desse drama! – o cavaleiro médico exclamou rindo e puxou o marido pelo braço, quase arrastando-o pelo parque de volta para casa. – Vamos embora que eu tenho que trabalhar e você vai fazer compras para o bar.

– Acho que eu devia mesmo ficar esperando…

– Vai ficar na porta da escola chorando como um cachorro abandonado?

– Também não é para tanto…

– Não sou eu que estou com os olhos vermelhos de chorar.

– Não era você que era sensível?

– Vem cá, meu bem – Shun chamou e abriu os braços, envolvendo Hyoga com eles. Raramente faziam isso em público, mas o médico estava com vontade de confortar o amado e já não se privava tanto de fazer o que queria. – Eu ainda sou sensível, mas é que agora eu corto pessoas com uma lâmina afiada e meto a mão dentro delas.

– Isso é um pouco assustador.

– Pois é, eu faço essas coisas e mesmo assim não tinha coragem de assumir o que sempre senti por você. Eu nem pensava mais em ter uma família, mas as estrelas se alinharam, trouxeram a Nat e ela fez o milagre de unir nós dois.

– Foi quase sem querer – Hyoga murmurou lembrando-se do momento exato em que a menina, assustada e desorientada, o chamou de papai e o fez tomar a decisão que mudaria sua vida e a de Shun para sempre.


FIM


(ou não)




BÔNUS:


Deslocado em meio aos casaizinhos e achando tudo muito chato, Ikki estava prestes a ir embora da festa de aniversário da sobrinha quando June se aproximou.

– Curtindo a festa? – ela ironizou.

– Um saco… Mas a bebida é boa e de graça.

– Infelizmente estou dirigindo – ela disse mostrando o refrigerante que bebia.

– Agora você é motorista da Saori?

– Estou mais para assistente e guarda pessoal da deusa. Ela preferiu ter as amazonas por perto, então eu e Marin estamos com ela na mansão. Normalmente é o Jabu quem dirige mas hoje ele não pôde.

– E você gosta disso, de ficar o tempo todo bajulando a Saori?

June deu uma gargalhada.

– É tranquilo, paga bem, tenho bastante tempo livre e folgas sempre que quiser, então sim, eu gosto.

– E o Shun com o Hyoga? O que você achou?

– Primeiro me diz o que você achou.

– Tanto faz. Eu não ligo.

– Pra mim tanto faz também – ela respondeu e deu uma longa pausa para pensar no que devia ou não dizer a Ikki. – Já faz muito tempo que eu desisti do Shun, Ikki. Percebi que não tinha futuro bem antes de saber que ele é gay. Só lamento não ter desistido antes. E você, por onde andou esses anos todos?

– Por aí.

– Como sempre.

– É, mas dessa vez acho que vou ficar um tempo por aqui. O Shun me ofereceu o apartamento dele, tô pensando em aceitar.

– Se resolver ficar, me liga – June disse sem rodeios. Estava curiosa para saber o que o Fênix tinha de tão sedutor e nesses anos de solidão, acabou aprendendo a satisfazer os anseios do próprio corpo sempre que surgia a oportunidade. – Ainda sabe o número da mansão?

– É, eu sei – ele disse, sorrindo meio de lado, ciente das intenções da amazona e pronto para aceitar o convite. Eram adultos, livres, e ele não ia negar uma noite de diversão com uma mulher bonita. – Mas por que não hoje, quando você terminar o serviço?

– Tá com pressa… – June deu um sorrisinho sensual.

– Não gosto de perder tempo.

– Ok. Me dá seu telefone e eu te ligo depois que deixar a senhorita Saori em casa.

June pegou o celular e gravou o número do cavaleiro.

– Vou esperar essa ligação…

– Eu cumpro minhas promessas – June disse e, dando uma piscadela, foi pegar um refrigerante mais gelado pois a expectativa do que viria mais tarde já a estava deixando com calor.




Hey, people!!

Volteeeeeei!

Finalmente terminei essa fic e bem no dia do aniversário do Oga! :3 Queria ter terminado durante meu recesso de fim de ano mas acontece que eu me meti a fazer uns cursos online e acabei sem tempo. Agora já voltei ao trabalho e continuo nos cursos, mas me acho que tô conseguindo me organizar mais ou menos… kkkkk

A ideia dessa fic era fazer ceninhas fofas da Nat e unir o casal, então acho que fiz o que pretendia. Agora que o EPGA acabou, resolvi terminar a fic também, maaaaaaaaaaas se surgir alguma ideia posso retomar… Nunca se sabe…

Dois novos casais surgiram nessa festa e fiquei com vontade de investir neles… A fic de Ikki e June inclusive já comecei com essa ceninha bônus e mais um pedacinho já escrito. Vamos ver se consigo desenvolvê-la. Já Shoryu e Yoshino são só um plano beeeeem pro futuro, mas seria divertido fazer a reação de Shina e Debas ao namorado da filhota.

É isso!

Obrigada a todos que acompanharam e comentaram os caps! ;) Até breve!!


Chii

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